A unidade especializada de tratamento da tuberculose em Luanda está a registar mais de 500 novos casos da doença por mês, números que preocupam a direcção do Hospital Sanatório da capital angolana. Num país rico que tem 20 milhões de pobres é apenas mais uma das suas bandeiras.
Os números foram divulgados pelo director clínico daquela unidade hospitalar, João Chiwana, em alusão ao dia mundial de luta contra a tuberculose, que hoje se comemora.
De acordo com o responsável, as novas infecções são maioritariamente pulmonares e tendem a crescer significativamente, devido à ineficácia dos programas de combate a tuberculose desenvolvidos e à procura tardia pelos doentes de tratamento.
“A não procura dos cuidados médicos durante o aparecimento dos primeiros sintomas pode levar a uma infecção dos membros da família, colegas de escola e vizinhos próximos”, referiu João Chiwana.
O responsável salientou que são mais afectados jovens e o insucesso nos programas de combate à doença deve-se sobretudo ao abandono do tratamento pelos pacientes, bem como ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas, drogas e tabaco.
Na sua mensagem para assinalar a data, a directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moeti, disse que a tuberculose continua a ser uma das dez principais causas de morte no mundo e que cada um em quatro novos casos de infecção ocorre no africano, que conta também com 16 dos 30 países que têm o fardo mais elevado da doença.
Segundo Matshidiso Moeti, embora o número de casos de tuberculose a nível mundial esteja a diminuir, houve uns estarrecedores 10,4 milhões de novos casos estimados da doença em 2015.
“Mais de um terço destes continuam por diagnosticar e tratar, ou encontram-se diagnosticados, mas não estão registados nos programas nacionais de luta contra a tuberculose”, salienta.
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Moçambique, Angola e Brasil estão entre os 20 países com maior incidência de tuberculose no mundo, estimando-se que cada um tenha registado mais de 80 mil novos casos da doença em 2015.
O relatório global sobre a tuberculose, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), estima que tenham surgido 10,4 milhões de novos casos de tuberculose no mundo e alerta que, embora a incidência e a mortalidade estejam a cair, é preciso acelerar o ritmo para se alcançarem os objectivos da estratégia para a eliminação da doença.
Com base em dados recolhidos junto de 202 países e territórios, que representam mais de 99% da população mundial e dos casos globais de tuberculose, o relatório destaca os 20 países com maior número absoluto de novos casos, a que junta os dez países que, não estando na lista anterior, têm maior proporção de novos casos na sua população.
Entre os 20 primeiros surgem Moçambique, com 154 mil novos casos em 2015, Angola, com 93 mil novos casos, e o Brasil, com 84 mil novos casos.
A taxa de incidência, o número de novos casos em relação ao tamanho da população, é muito variável entre países, indo desde menos de 10 novos casos em cada 100 mil habitantes até mais de 500.
Entre os países com maior taxa de incidência está Moçambique, com 551 novos casos em cada 100 mil habitantes, taxa só superada pela Coreia do Norte, com 561 novos casos por 100 mil habitantes, o Lesoto, com 788, e a África do Sul, com 834.
O relatório cruza a lista dos 30 países com alta incidência de tuberculose com duas outras listas: a dos 30 países com mais novos casos de tuberculose multirresistente e a dos 30 países com mais novos casos de tuberculose associada ao HIV/Sida.
Há 48 países que estão pelo menos numa das três listas e 14 países que surgem nas três listas, dois dos quais são de língua portuguesa: Moçambique e Angola.
O Brasil está em duas – grande incidência de tuberculose e grande incidência associada ao HIV – e há ainda outro lusófono que surge apenas na lista dos países com mais tuberculose ligada ao VIH: a Guiné-Bissau.
Em Angola, estimam-se 93 mil novos casos de tuberculose em 2015 (uma taxa de 370 em cada 100 mil), dos quais 28 mil são HIV positivos (30%) e 4.100 são casos de tuberculose multirresistente.
No mesmo ano morreram no país, por causa da tuberculose, 11 mil pessoas com HIV negativo (45 em 100 mil habitantes) e 7,2 com HIV positivo (29 em 100 mil habitantes).
A OMS alerta, no entanto, que os números estimados não correspondem necessariamente a casos notificados. Dos 10,4 milhões de novos casos estimados, apenas 6,1 milhões foram detectados e oficialmente notificados em 2015, o que representa uma diferença de 4,3 milhões.
Esta diferença reflecte uma mistura de subnotificação de casos detectados (principalmente em países com grandes sectores privados) e de subdiagnóstico (especialmente nos países com maiores dificuldades de acesso aos serviços de saúde).
O caso português
Portugal registou 18 novos casos de tuberculose por 100 mil habitantes em 2016, ano em que 18% das ocorrências foram em nascidos fora do país, um aumento que levou as autoridades de saúde a desenvolver estratégias com outros organismos.
Segundo dados provisórios hoje divulgados pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), no Dia Mundial da Tuberculose, a taxa de incidência (novos casos) de tuberculose em Portugal situou-se em 18 por 100 mil habitantes em 2016.
Através do Programa Nacional para a Infecção HIV, SIDA e Tuberculose, a DGS indica que cerca de 18% dos casos de tuberculose notificados em 2016 ocorreram em doentes nascidos fora do país.
“O aumento desta proporção nos últimos anos levou o Programa Nacional a desenvolver estratégias em conjunto com o Alto Comissariado para as Migrações, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e ONG no sentido de reduzir este valor”, lê-se na nota da DGS.
Em 2015, último ano com dados definitivos conhecidos, “o teste VIH foi realizado em 88% dos doentes com tuberculose, dos quais 12% foram positivos”.
“Portugal continua a ter uma das mais altas taxas de co-infecção tuberculose/HIV da Europa Ocidental que motiva o Programa a delinear estratégias que visem o rastreio da tuberculose em população HIV positiva e a identificar as barreiras ao tratamento preventivo nesta população”, prossegue a nota da DGS.
A autoridade de saúde portuguesa destaca “a redução dos casos de tuberculose entre a população prisional e a população consumidora de drogas, traduzindo já o trabalho efectuado nestes grupos”.
Em 13 de Outubro do ano passado, o director-geral da Saúde, Francisco George, esclarecia que a taxa de incidência de tuberculose em Portugal, em 2015, era de 19,2 casos por cem mil habitantes.
Um dia no meio de muitos dias
No dia 24 de Março é celebrado o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. A data criada em 1982 pela Organização Mundial da Saúde homenageia os 100 anos do anúncio do descobrimento do bacilo causador da tuberculose, ocorrida em 24 de Março de 1882, pelo médico Robert Koch. Apesar de mais de 43 milhões de vidas tenham sido salvas no mundo por meio de diagnóstico e tratamento efectivo, entre os anos de 2006 e 2015 a tuberculose está entre as doenças infecciosas que mais matou.
Segundo o pneumologista brasileiro do Hapvida Saúde, Jorge Benevides, é importante reforçar que: “Se o tratamento for interrompido, pode levar à necessidade de troca de medicamento para um mais forte e um prolongamento da terapia por um ou até dois anos”.
A tuberculose é uma doença causada pelo bacilo de Koch, que destrói o pulmão, podendo ser disseminadas para outras partes do corpo, tais como ossos, meninges, órgãos genitais e rins. Nos infectados, os sintomas mais frequentes são a perda de peso, revelando um emagrecimento, febre baixa, que se apresenta mais ao fim do dia, tosse que se estende por mais de três semanas. “Entretanto, alguns pacientes não exibem nenhum sintoma perceptível da doença, mas apresentam fraqueza e cansaço excessivo, que também devem ser avaliados por médicos”, pondera o pneumologista.
O tratamento da tuberculose é feito à base de antibióticos e é eficaz desde que seja feito correctamente, sem abandonar os cuidados necessários ou a medicação. “Alguns pacientes sentem os efeitos colaterais da medicação e apresentam enjoos, indisposição e mal-estar geral, mas, ainda assim, é fundamental que o tratamento não seja interrompido. Seguindo correctamente as orientações e cuidados da terapia, em seis meses obtém-se cura total”, reforça Jorge Benevides.
Alguns grupos estão mais vulneráveis a adquirir a doença, tais como portadores de doenças que debilitem o sistema imunológico (imunodeficiências) e pessoas que sejam dependentes de álcool ou outras drogas. Indivíduos que apresentem quadros de desnutrição também são consideradas grupos de risco. Por isso, algumas medidas de prevenção são fundamentais para evitar a doença.
A primeira das recomendações de prevenção seria fazer a vacina da tuberculose (BCG) até aos 30 dias depois do nascimento, ou o mais rápido possível durante a infância. De acordo com o especialista, hábitos de vida mais saudáveis também são formas de prevenção.